Como a ciência pode ajudar na construção mais sustentável das cidades?

Como a ciência pode ajudar na construção mais sustentável das cidades?

Já parou para pensar na relação entre clima e a construção das cidades? Pois a ciência, sim. O processo de urbanização altera o comportamento das variáveis climáticas em âmbito local, produzindo  que definem o clima. Por isso, geógrafos, meteorologistas, arquitetos, climatologistas, biólogos, engenheiros, físicos se unem em estudos sobre clima que podem ser aplicados ao planejamento urbano.

O trabalho deles é promover pesquisas que ajudam a entender o impacto da ocupação das cidades no clima e, consequentemente, em variáveis climáticas como temperatura do ar, umidade, velocidade do vento,  temperatura da superfície, entre outras. Eles se movem em busca de respostas para questionamentos como: que tipo de cobertura do solo pode absorver mais ou menos calor, conforme a incidência solar? Como representar cidades tão heterogêneas em informações que sejam úteis para os planos urbanísticos desses espaços?

A pesquisadora Daniele Gomes Ferreira, da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é uma dessas cientistas empenhadas em agregar informações úteis ao cenário das cidades. Ela tenta traduzir estudos complexos sobre clima – utilizando imagens de satélite, dados coletados em campo e modelos matemáticos – em informações com linguagem acessível, que possam ser usadas por arquitetos e gestores no planejamento de territórios. Na pesquisa de doutorado, constrói um arcabouço de dados essenciais para ajudar na construção mais sustentável de espaços urbanos. O trabalho é orientado pela profa. Eleonora Sad de Assis.

“A gente tem problemas nos climas tropicais e ainda não sabemos exatamente os impactos das cidades no clima por escassez de estudos nestas regiões. Existem mais estudos sobre o assunto no Hemisfério Norte, em climas temperados. Por aqui, estamos ainda na teoria”, explica.

O que instiga Daniele Gomes a pesquisar são as formas de transformar informações muito técnicas em algo que qualquer “tomador de decisão” possa usar em projetos para cidades. É preciso pensar em tecnologias ligadas ao desempenho termo-energético, luminoso-visual, acústico e antropométrico do ambiente construído, mas de uma forma bem prática para os que trabalham com planejamento.

CONFORTO AMBIENTAL

Ao pensar em tecnologias aplicadas à Arquitetura e Urbanismo, alguns pesquisadores se dedicam aos estudos sobre conforto ambiental. Significa entender os impactos que a cidade provoca no território onde ela se desenvolve.

“Dependendo da forma como a gente constrói as cidades, há impactos maiores ou menores no ambiente, criando condições de maior ou menor conforto para os seres humanos. Portanto, pensamos no planejamento urbano como um todo, inclusive na escala dos edifícios. Como um prédio altera o clima e como podemos diminuir o impacto? A forma como projetamos edifícios e toda a cidade pode melhorar a qualidade de vida”, afirma.

Pensando em conforto ambiental, arquitetos avaliam tipos de materiais para construções, a implantação de edificações, dentre outros aspectos, visando minimizar o impacto no clima. “Os estudos estão avançando no sentido de avaliar o efeito de áreas vedes, permeáveis, cobertas por vegetação e com presença de água. Tudo isso junto à composição de edifícios. Às vezes o efeito destas estratégias é só local, mas o efeito local também é importante”, explica a pesquisadora.

Segundo ela, a atuação do arquiteto e urbanista não é necessariamente diminuir o impacto da cidade no clima global, mas sim, mitigar efeitos localmente. A preocupação global é muito pertinente e fica por conta, quase sempre, de ambientalistas e meteorologistas.

CIÊNCIA X DECISÕES DE PLANEJAMENTO

Daniele Gomes considera que às vezes há um distanciamento entre a ciência e os arquitetos que estão fazendo o planejamento urbano. Do ponto de vista das pesquisas cientificas, há áreas de zoneamento urbano que confrontam com as questões ambientais. “Em Belo Horizonte, por exemplo, há locais em que seria preferível preservar corredores de ventilação, porém na legislação urbanística está previsto o adensamento”, afirma a pesquisadora.

Ainda de acordo com Daniele Gomes, há uma grande dificuldade em traduzir a informação do clima urbano para a tomada de decisão, mesmo com esforço de prefeituras em considerar as pesquisas científicas.

MAPA CLIMÁTICO URBANO

Uma das aplicações em que se utilizou  instrumentos para traduzir os dados climáticos em informações mais qualitativas foi no estudo “Análise de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas do Município de Belo Horizonte”, publicado em 2016, do qual Daniele Gomes fez parte. Pesquisadores brasileiros contaram com apoio do prof. Lutz Katzschner, da Universidade de Kassel, Alemanha.

O documento estima os impactos do clima na cidade com projeções para o ano de 2030 apontando, principalmente, regiões de alta vulnerabilidade aos efeitos do calor e da chuva (inundações e deslizamentos).

Para construir parte deste estudo, os cientistas e técnicos usaram a metodologia alemã chamada “mapa climático urbano”. É um método que avalia informações do uso do solo e de aspectos geográficos (topografia e dados meteorológicos). Depois viabiliza uma análise representada em mapas que podem ser aplicados no planejamento urbano.

Em BH, para construção do mapa climático considerou-se ocupação urbana, declividade das áreas, quantidade de área verde, cobertura do solo, velocidade dos ventos, entre outros fatores.

Fonte: obra24horas